sábado, 19 de novembro de 2011

A minha amiga Kátia

Conheci-a tinha apenas 15 anos.  Uma menina alegre, tímida, introvertida; mas estava à procura.  Ainda bem que senti seu espírito de procura e me empenhei:

Dizia-lhe leia isso; ela lia.  Ouça isso, ela ouvia.  Veja esse filme ou aquele outro filme.  Ela via e anotava tudo. Tudo! Seu caderninho ficava cheio de titulos de filmes ou livros que ainda leria ou veria.  Isso me empolgava.  Tudo era feito com muita discrição de sua parte e da minha também. 

Em mim não havia nenhuma intenção de Pigmaleão, não, apenas o desejo de ver uma menina com vontade de saber, de conhecer.

Depois vieram as conversas.  Todos os tipos de conversas, das filosóficas, sobre sexo, política, até fofocas saudáveis.

Assim a menina crescia.  Acredito que sua escolha pelo estudo da História tenha um pouquinho do meu dedo.  Legal!

A moça crescia alegre, sorridente e feliz.

Durante a faculdade era maravilhoso vê-la entusiasmada com os conhecimentos que adquiria. 

Nesse momento começou a fase das trocas.  Agora era ela que me dizia: Leia isso, veja isso, ouça isso e eu lia, via e ouvia tudo.  Até em algumas aulas fui como ouvinte para ver esse ou aquele professor que ela achava o máximo.  Lembro-me do Mariela e do Edson, seus professores queridos.

As conversas não paravam.  Muitas vezes, em várias ocasiões, foi responsável por conselhos sábios, que pus em prática, claro.

Hoje, no Mestrado, brilha, reluzente, alegre, jovial, independente e cheia de sabedoria.

Cresça moça!  Cresça mulher! Cresça menina!  O mundo está todo aí, pronto para ser explorado e conquistado.

Faça do seu estudo, sua bandeira!
Existem mil vozes negras implorando para falar.  Ouça-lhes!
Existem mil corpos negros de meninos e meninas implorando a sua existência.  Mostre-lhes que é possível!

Cresça sim, sempre e sem deixar de ser essa menina, moça e mulher doce, séria, justa e alegre.

Kátia, queria escrever tudo que vem no meu coração, mas não consigo - as lágrimas atrapalham!
São lágrimas de quem está na torcida e também de saudades, por que não?

A vida segue em frente, os focos mudam, os caminhos são diversos e mesmo que a vida nos afaste por esse ou aquele motivo, comuns a quem está vivendo e procurando, fique com a certeza que um pedaço de mim estará sempre contigo.

sábado, 1 de outubro de 2011

A casa dos Saberes

A casa dos saberes

As chaves fecham e abrem o livre desejar,
As cortinas sabem de desejos
que eu nunca pensei em contar.


Livros da estante acusam de não terem sido lidos,
As gavetas denunciam passados mantidos,
O guarda-roupa me alerta que há sentimentos a serem vestidos.


No banho, a água me bebe
E percebe
A agonia de problemas não resolvidos,
O fogão aquece sonhos perdidos,
A geladeira mantém pensamentos esquecidos.


Nos lençóis, repousam milagres abandonados,
O alarme desperta medos silenciados.


Os cd's entoam a voz da consciência,
O sofá senta as decisões com veemência.


Sob a mesa, estão contas vencidas de um futuro incerto
As janelas refletem a sombra do amor, que de perto,
Clama a paixão prometida.
A porta vigia a busca da solução, da melhor saída.


O ventilador refresca idéias inutilizadas,
A tv apresenta vontades acabadas.


O rádio narra notícias distantes do vizinho ao lado
A cama inflama e procura o corpo do amado.
Poesia de KÁTIA GOMES (minha amiga)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O Príncipe!

Muitos textos, poemas e poesias, normalmente feito por nós, mulheres, iniciam-se quase sempre com indagações, do tipo: Quando chegará o amor? Como será esse amor? Será o derradeiro amor? E é claro que esse amor é sempre idealizado como nos antigos contos de fada: Ele é belo, íntegro, másculo; um principe encantado.

Eu também tive meus principes, que virava e mexia se transformavam em verdadeiros sapos.  Um horror!

Porém acabei por encontrar o meu príncipe.  Chegou sem nenhuma pompa ou garbo.  Não houve carruagem, nem me jurou amor eterno.  Simplesmente aconteceu!

Nada assim também tão simplesmente.  Houve algumas batalhas, que foram travadas, espada a espada, mas vencemos todas.  A mais importante foi a de onde morar?  Morar fora do Rio de Janeiro foi a mais estressante batalha.  Meu Rio de Janeiro tão lindo, tão castigado, tão perfeito, tão imperfeito!!!

Enfim fomos para o interior do Rio de Janeiro.  Ah! o interior é tudo!  Aí o casamento ficou perfeito, ou quase, por que nada é perfeito.  Perfeito?

Hoje "sem medo de errar" e "dando minha cara à tapa", digo a vocês, meus leitores, que o meu principe é o meu parceiro, é o meu amante e é o meu amor.

sábado, 24 de setembro de 2011

Te vi

Te vi
graciosa a caminhar
todos os dias em frente a minha casa

Te vi
zombeteira a sorrir!
Do que ris?
Sinto ciumes!

Te vi
Cantando canções!
Serão para quem?

Te vi
olhar atrevido
Soltando os botões da sua blusa!

Te vi
Festeira na minha cama
Toda minha
Te vi
Em mim!

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Madeira de Lei

Hoje sinto-me oca como uma árvore que morre.
Existe o tronco, até folhas. 
Aparência...
Qualquer jardineiro percebe que é aparência
Mais dias menos dia, ela morrerá

Mas que sensação é essa?
Que sentimento é esse que se apodera de mim
Num dia como esse, uma manhã tão linda?
Há uma sensação de vazio, dor, angustia
Sofrimento...

Dentro de mim há misturas não definidas
Mudanças ocorrendo
Ebulição, efervecência inquietante
Agressão...

Não quero ser uma árvore oca, mesmo com folhas
Não quero aparência.

Eu quero a mim.
Quero mudanças, ebulições, inquietações
Mas sabendo que trarão solidez
Tal qual uma árvore viva que dá a madeira
Madeira maciça,
Madeira de Lei!

Por Sonia Santos, em 20/9/94

Ideias

Não consigo escrever
As letras passeiam a minha frente...
Primeiro as vogais,
Após vem as sílabas
O alfabeto inteiro
Consigo formar algumas palavras
Amor, Desilusão, Sexo, Luxúria
Solidão
E só...
Sinto-me oca, infertil
As frases não vêm
Nem mesmo uma idéia
Uma ideiazinha sequer
Será que será sempre assim?
Melhor dormir!

sábado, 20 de agosto de 2011

Delírios

Quero os delírios, todos
Quero a loucura
Essa loucura que me consome, lentamente
Todos os dias

Não me toque, não gosto que me toquem
Não me dite regras
Nem diga que me ama
Pois nem a mim mesmo eu amo.

Estou só
Quero estar só
Não insista!

Quero as memórias
Quero as saudades
Quero só você!

sábado, 11 de junho de 2011

Era uma vez um dia! Uma Greve!!

ERA UM DIA, UMA GREVE!
Por Sonia Santos

Sabe aquele dia em que não era para você levantar da cama?  Pois é, passei por um desses dias.
Quando acordo a primeira coisa que quero é tomar um cafezinho preto, bem quentinho.  Já é mania! Vou à dispensa, abro o pote com tanta força, que o pouco café que existe, vai ao chão, na mesa...um desperdício! Fico irada, mas fazer o quê?  O melhor que tenho a fazer agora é tomar um bom banho, pra ver se as coisas melhoram, afinal de contas.
Parto para essa segunda etapa.  Ao terminar deparo-me molhada sem a toalha.  Vocês irão pensar, pegue qualquer toalha, já que estou no banheiro, certo? Errado!  Não há toalha nenhuma.  Estão todas no quarto.  Decido pegar, ir até o quarto.  Para isso tenho que passar pela sala, cuja janela está escancarada, que dá para o apartamento do meu vizinho.  O quê fazer?
Imaginem a criatura em pelo, do jeito que veio ao mundo e engatinhando para não ser vista pelo vizinho.  Ai saudades da casa materna que era só gritar “Mãe me pega a toalha”, mas a mania da independência é grande.  Agora agüente e se vira, penso eu.
É o que faço.  Engatinho até o quarto, molhando todo o piso e me odiando.  Por fim chego ao quarto e dou por encerrada essa etapa.  Ao sair, já atrasada para o trabalho, vou até o elevador quando dou conta que esqueci as chaves dentro do apartamento, ao fechar a porta.  No chaveiro também estão as chaves do carro.  Como sair? Como entrar em casa?  Novamente, o quê fazer?
Falo com o porteiro, que como de costume, está sempre aborrecido com alguma coisa ou com alguém, sei lá!  Tento falar com jeito, mas já vai me avisando, sem ao menos me olhar, que vai demorar; ele tem muita coisa pra fazer antes disso e ainda solta uma frase pequena, mas cheia e grande, que fingi não ter ouvido: “Que amolação”
Finalmente o porteiro consegue abrir minha porta, eu resgato as chaves, agradeço de coração e, é claro com uma gorjeta e parto para o meu destino, sem meu cafezinho e os joelhos “estourados”, exageros....

Pego meu carrinho e sigo pra escola onde leciono.  Ao chegar, vocês não irão acreditar! Tudo que passei!  Consegui chegar e a escola estava fechada, com os dizeres ESTAMOS EM GREVE!

Eu esqueci!!!!!!!!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Sem Nexo

Lentamente
Sinto chegares de mansinho,
Sussurando
Como a brisa do vento,
Querendo entrar.

Puxo a coberta
Para não o sentir tão perto
Em vão...

Apossa-te de mim
Sem pedir licença
Como uma bacteria
Que arde
Que fere

Tomo o remédio
Da razão
E não vejo razão
Para tanto!

Mesmo assim tomo
Me sentirei mais leve
Não curada de ti,
Mas leve...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Infância

A MINHA AMIGUINHA SONINHA

Vejo-te pequena
Com teus cabelos encaracolados
Espivitada!
Minha amiguinha de bairro e de vila.
Vila Bairro Jardim Sonia,
Nossos nomes.
Eu, Soninha para os teus;
Tu, Soninha para os meus.
Crescemos...
Cada uma pr'o seu lado
Cada uma com sua vida.
Envelhecemos...
Cada uma pr'o seu lado
Filhos, netos
Uma vida inteira
De amor,

Sonia Santos

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Aos meus pais

Meu pai
Musica, discos de vinil
Fusas e semi fusas
Mínimas e seminimas
Colcheias e semi colcheias
Ensaios,...gravações...

Minha mãe
Trabalho,
Crianças,
Cheiros de comida na cozinha
Muita conversa,
Muito amor.

Meu pai
Austeridade,
Generosidade,
Disciplina.

Minha mãe
Sabedoria,
Serenidade,
Sagacidade.

Meu pai
Brincadeiras...
Homenzinho de dedo,
Carrinho com a mão,
Piquenique na cachoeira,
Pão com mortadela e limonada.

Minha mãe
Bolo assando no forno,
Doce de leite na colher,
Risos e choros,
Nota vermelha,
Taboada cantada,
Reprovação,
Aprovação,
Suavidade.

Meu pai
Cansaço,
Doenças,
Remédios,
Velhice.

Minha mãe
Cansaço.
Doenças,
Remédios,
Velhice.

Meu pai
Amor da minha vida.

Minha mãe
Amor da minha vida.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Eu, a rede e meu jardim

Deitada vejo-te soberbo,
Soberano.
Ao mesmo tempo
Simples,
Singelo.
Faz frio.
As plantas vão e vêm
Como uma dança harmoniosa
A lua grande e luminosa
Ora aparece, ora desaparece
Sobre os galhos, entre as nuvens.
Tudo é calmo
Somente eu e você
O barulho da ruela
O vai e vem
Crescendo e diminuindo
Eu inteira em você.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

PONTUAL
         PONTUALIDADE
                          PONTEIROS
                                      PREGUIÇA
                                                  PONTO FINAL!

SIMPLES DEMAIS

Há vezes que acho minhas poesias
Simples demais
Pouco rebuscadas
Fáceis... Diretas...
Gostaria do entre linhas
Do prolixo
Da antítese
Da metáfora,
Da metonímia
Doces figuras lingüísticas!
Mas deixe estar
Pois nas simples palavras
Pode-se enxergar
Minha própria alma
O meu coração.

S A U L O

Quando te vi pela primeira vez
Não senti teu cheiro
Eras tu tão pequeno...tão inerte!

Um dia...
Um dia comum de todo dia
Um estampido lá fora ouvistes
Deu-se, então o momento químico
Dos encontros

Nós dois choramos
Tu pela vida que chegava
Eu, pelo amor profundo que senti
Outro dia li uma poesia
Que dizia das saudade
Dos tempos que não foram vividos
Das musicas que não foram ouvidas
Dos amores que não foram amados.

Eu vivi esse tempo
Eu ouvi essas musicas
Eu amei os amores

Porém ainda sinto saudades
Dos amores que não amarei
Das musicas que não ouvirei
Dos tempos que não viverei.
Hoje acordei pensando numa canção,
Num tom.
Maior ou menor?
De amor ou de amigo?
Canção com muitas fusas e semi fusas,
Tocadas ao piano.
E eu nem sei tocar!
Uma canção que lembre nossos momentos
Nosso amor
E eu nem te amo mais!
Ai!
Essa saudade que me mata
e me maltrata
Saudades...
Saudades do teu cheiro,
Saudades do teu sussurro,
Saudades da tua barriga calma e suave
Saudades dos enlaces frenéticos de nossas pernas
Dos nossos corpos
Saudade de tua sede
Do teu suor
Do teu sexo
Saudades de nós.
Daí eu disse ao meu coração:
Não me deixe sofrer
Não sofra, disse-me ele
Sofra só um pouquinho
Na medida certa
Para sentir o gostinho
Após, arranje um jeito de sair,
Pular,
Cantar,
Pisar no chão e
Desencanar.